A tragédia da Boate Kiss, que ocorreu em 27 de janeiro de 2013, completa 10 anos e foi considerada dos maiores desastres de segurança pública da história recente do Brasil. O incêndio na boate, localizada na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, trouxe o sofrimento e luto para muitas famílias brasileiras.
No dia da tragédia, aproximadamente mil pessoas estavam na boate. O show estava sendo realizado pelo grupo musical Gurizada Fandangueira, quando, por volta das 2h30 da manhã, um fogo de grandes proporções começou a se espalhar pelo local. O fogo foi resultado de um incêndio que começou no palco, provocado pelo uso de sinalizadores de fogo artificial.
A espuma do teto foi atingida pelas fagulhas e começou a queimar. A fumaça tóxica fazia as pessoas desmaiarem em segundos. O local estava superlotado, não tinha equipamentos para combater o fogo, nem saídas de emergência suficientes. Morreram pessoas que não conseguiram sair e outras que tinham saído, mas voltaram para ajudar.
Delegado conta o que aconteceu na tragédia da Boate Kiss
Segundo o delegado regional de Santa Maria, Sandro Luiz Mainers, a situação se tornou caótica quando a fumaça se espalhou e a iluminação falhou. Isso causou pânico entre as pessoas que se encontravam na boate e muitos não sabiam como escapar.
“E isso fez com que algumas pessoas enganadas por duas placas luminosas que estavam sobre os banheiros da boate corressem na direção dos banheiros e não na direção da porta. Então, houve um fluxo e um contrafluxo. Algumas corriam para o banheiro e outras tentavam correr na direção da porta de entrada. Isso fez com que muitas pessoas morressem porque algumas acabaram sendo derrubadas, algumas caíram”, relatou.
Além da falta de sinalização, quem tentava sair esbarrava nos guarda corpos que serviam para direcionar as pessoas ao caixa da boate, disse o delegado. “E os guarda corpos foram determinantes, até porque nós encontramos corpos caídos sobre esses guarda corpos”, afirmou.
A tragédia causou a morte de 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos. Muitas das pessoas que morreram foram sufocadas pela fumaça, enquanto outras foram carbonizadas. A maioria dos mortos era jovem, entre 17 e 30 anos, e morador do município universitário gaúcho.
Impunidade
Dez anos se passaram e até hoje pais e familiares das vítimas não receberam a justiça desejada. O luto e indignação serão eternos.
A investigação policial levou 55 dias e incluiu 800 testemunhas. Ela apontou diversas irregularidades, incluindo excesso de lotação, extintores quebrados e falta de treinamento. Durante a confusão, os seguranças fecharam a única porta de saída, impedindo que as pessoas saíssem sem pagar a conta.
Após a investigação, 28 pessoas foram responsabilizadas pelo incidente. Entre elas, apenas quatro foram denunciadas pelo Ministério Público: os sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, o músico Marcelo de Jesus e o produtor de palco Luciano Bonilha, todos por homicídio doloso.
Os quatro réus foram levados a júri popular em dezembro de 2021. Depois de 10 dias de julgamento, foram condenados a penas de 18 a 22 anos de prisão. No entanto, em agosto de 2022, os advogados de defesa recorreram e conseguiram anular a sentença. Atualmente, não há data para um novo julgamento.