O americano Joe DiMeo, 22, sofreu um terrível acidente em julho de 2018 que mudaria sua vida por completo. Quando retornava para casa em seu automóvel, dormiu ao volante, provocando um acidente que explodiu o automóvel. O rapaz sofreu queimaduras de terceiro grau em 80% do corpo, as quais derreteram por completo suas pálpebras, causando danos severos na face.
Após três meses em coma induzido, precisou amputar todos os dedos das mãos, e retornou para casa completamente dependente dos pais, tanto para se alimentar quanto para as demais necessidades básicas. O seu caso despertou atenção do médico e professor Eduardo Rodriguez, diretor do programa de transplante de face do hospital NYU Langone.
“Ele é jovem, saudável, e com uma importante qualidade: é o paciente mais motivado que já conheci. Essa característica é essencial para sobreviver à cirurgia e a todo o processo pós-operatório, que envolve muita fisioterapia”, contou Rodriguez, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (3).
O projeto do médico era ambicioso: realizar de uma única vez o transplante das duas mãos e do rosto. Em todo o planeta, cerca de 100 operações deste tipo nas mãos e outras 50 na face já foram realizadas, mas nunca de maneira simultânea. Duas tentativas de mesclar chegaram a acontecer, mas em ambos os casos os pacientes faleceram.
Os estudos de Rodriguez levaram à conclusão de que Joe tinha apenas 6% de encontrar um doador compatível, seja pela tonalidade da pele, tamanho dos ossos ou compatibilidade de sangue e enxertos de pele, o que poderia comprometer a operação.
Com o advento da pandemia, a situação ficou ainda mais delicada, tendo em vista que os médicos que participaram da cirurgia foram realocados no combate. Com isso, Joe precisou ser mantido em rigoroso isolamento social, já que um contágio poderia facilmente matá-lo.
Em agosto do ano passado, finalmente surgiu um doador ideal para o jovem. Uma grande equipe médica foi escalada para participar da cirurgia, a qual durou cerca de 23 horas. Quando conversou com Joe pela última vez antes de irem para a mesa de operações, a resposta surpreendeu Rodriguez.
“No dia da cirurgia, como eu sempre faço, fui perguntar se ele queria desistir. A última palavra é dele, se falasse que não, iríamos desfazer tudo. Ele poderia morrer, ou ficar pior do que estava antes. A resposta veio sem hesitação, e ele queria entrar na sala de cirurgia o quanto antes”, lembra o médico.
Após a cirurgia, Joe ficou internado por 45 dias, além de 57 dias em uma clínica de reabilitação, onde foi treinado a mexer as mãos. Quando finalmente voltou para casa, o primeiro pedido foi comer um hambúrguer sozinho. Passados cinco meses do procedimento que entrou para a história da medicina, está cada vez mais independente. Gradativamente suas funções motoras são reestabelecidas, graças a cinco horas diárias de terapia.